LindaMaria

Maria

Tragetória LindaMaria

História baseada em fatos reais.

Dedicação:
Dedicado a vocês que fazem parte da minha vida.
Um pouco da história de Maria.
Agradecimento:
Agradeço profundamente a todos que entraram na minha vida. Que com
sua luz iluminaram meu viver. Presto homenagem aos meus pais, filho e entes
queridos que se foram, mas que de uma forma me inspirou na criação deste
livro.


Capítulo I
O dia vem surgindo, os primeiros raios do sol batem na vidraça, o clarão pelas frestas
da cortina ilumina o quarto onde uma jovem senhora desperta do seu sono. Naquele momento
os pássaros com seus gorjeios lhe prestam uma canção de amor. Quando vejo os teus céus, obra
dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste.
Sl 8/3
As aves dos céus, e os peixes do mar, Deus nos criou senhor nosso, quão admirável é o
nome sobre toda terra.
Como de costume ela agradece ao Senhor do Universo por mais um novo dia. Tudo que
expressasse em oração seriam poucas as palavras, pela eterna gratidão ao senhor Deus pelos 57
anos de vida. “Obrigada pai do Céus por nunca ter desistido de mim.”
Maria se vê diante de um grande espelho, sorri de si mesma, cabelo despenteado, um
pijama meio desengonçado já bem gasto pelo tempo. Se admirava pela valentia de uma mulher
guerreira. Ao olhar pelo túnel do tempo e ver quantos caminhos ou milhas percorridos.
Chegando com uma audácia e confiança inexplicável… “Vim e até aqui venceu o Senhor por
mim.” Olhando seu rosto já marcando uma ruguinha aqui, outra ali. Há se elas pudessem falar,
teria uma linda história, o porque se alojaram ali. E com alegria traduz nos versos “a luz semeiase para o justo, e a alegria, para os restos do coração.” Sl 97/11
Nasci na década de 60, uma menininha e em homenagem a avó materna lhe deram o
nome Maria

.

Ela era a terceira daquela família. Nasceu em um lar humilde e com dificuldades
diversas. A mãe coitada, essa se virava como podia, lavava roupa para algumas famílias, fazia
quitandas, entre outras ocupações a fim de aumentar a renda familiar. O pai, um homem
trabalhador onde lá na roça debaixo de um sol escaldante encerrava seu dia de trabalho. Afinal
eram três boquinhas para alimentá-los. Aos 3 aninhos já tinha mais um irmãozinho, já não era
mais a caçulinha. Era conhecida como cachinhos de ouro por ter cabelos cacheados e cor de
ouro. Una história triste marca essa vidinha que apenas começava. Sua amada vovó Maria e sua
única tia, dois caixões um ao lado do outro. Não entendia ainda, mas lá estava estendido o
corpo de sua amada vovó Maria. Naquela sala de chão batido onde passava horas brincando
com os irmãozinhos foram interrompidas por um triste velório que marcaria para sempre
naquela memória infantil.
Aquela menina se tornou adulta muito depressa, pois a vida que lhe era proposta, talvez
fosse dura demais para uma criança. Muito cedo tomou responsabilidade nos pequenos e
rotineiros favores da casa. Tinha uma grande horta para ser regada todas as manhãs. Um enorme
quintal que era varrido com vassouras grandes e pesadas. Todos os dias, pois havia um grande
pomar, mangueira, abacateiro, cajá-manga, laranjeiras, cajus, limões, bananeiras entre outras
plantas, que suas folhas espalhavam pelo chão. Era então o grande motivo das limpezas diárias.
Ainda tinha o caçulinha para ajudar a mãe a cuidar. Morávamos perto do Córrego Mineiros,


águas límpidas, córrego cheio onde até pescávamos. Que alegria quando chegava o dia em que
mamãe ia lavar roupas. Alegria tomava as crianças. Ia por trilheiros de mata fechada, uma mãe
atenta e cuidadosa pois consigo levava 4 crianças. Quando aproximava daquele lugar era só um
barulho de água, crianças rindo, brincando, tomavam banho até bater em queixo, hipotermia a
gente nem conhecia. Lá na rua onde moravam tinham tantas crianças que até parecia que todas
Deus havia colocado lá na nossa rua. Não tinha tristeza, não faltava coragem, no fim do dia
todos estavam lá na minha rua para brincarem. As mais variadas brincadeiras como: cabra-cega,
Terezinha de Jesus, pique-esconde, brincadeira de roda… De repente uma voz forte era a mãe
chamando, “menino já para dentro, chega de brincadeira por hoje, é hora de dormir.” A gente
nem tinha sono, mas o que se via era a meninada igual foguete cada um para suas casas. Ao
dormir sonhava com o próximo dia para novamente lá na nossa rua de terra empoeirada com
pedras e barro. E assim a vida passava no sonho inocente. O tempo passava depressa. Ela agora
com 7 anos vai para sua primeira escola. Ela se sentia feliz, cadernos novos, aquele uniforme
lindo, saia azul de pregas, blusa branca e meia três quarto. Não foi fácil sua alfabetização. Mas
tive a sorte de encontrar uma professora que com carinho lhe ensinava. Alice era o nome dela.
Concluiu o primário ano, cursou a segunda fase até o segundo grau em um dos melhores
colégio.


O período mais difícil na escola foi na segunda fase. Pois seu pai achava que o primário
era o suficiente. O que passasse disso era luxo. E luxo era para rico. Porém era o sonho concluir
a segunda fase e quem sabe ser uma professora. Adorava brincar de ensinar. Sempre nas
rodinhas de criança ela era a professorinha. Na década dos anos 70 os livros eram por conta da
família, muitas vezes os pais trabalhavam o ano todo guardando um dinheirinho para comprar
o material escolar para os filhos. Os livros eram guardados como joias raras, pois eram caros
demais. Talvez fosse o motivo do pai de Maria não comprá-los.
Ela não ia bem nos estudos e faltavam material. De vez em quando sobravam uns
trocados, lá ia correndo xerocar algumas páginas (matéria de provas). E assim o tempo passava,
ela não desistia, aos 14 anos já estudava a noite. Pois a jornada de trabalho imposta pelo pai era
árdua e não sobrava tempo durante o dia. Deus com certeza cumpriria seus sonhos, realizaria
um por um. Pois aquele que busca recebe e o que bate à porta se abre.


Capítulo II
Formou-se, agora tinha magistério, professora. Nesse tempo de colégio conhece sua
grande paixão, seu primeiro namoradinho, tudo era sonho, até nos estudos fluíam melhor,
éramos felizes e sonhávamos com futuro. “Amei muito, sonhei, dediquei, porém não
realizamos.”
A juras de amor não foram cumpridas, o destino os separou. Ela perde o grande amor
de sua vida. Foram situações impostas que as forças não foram suficientes para vencê-las. O
tempo passa, o tal moço que de longe viria seria a escolha de poucos. Aquele moço com palavras
doces e amáveis tentava apagar um passado que ainda estava muito próximo. Os dias se vão,
chega o dia do noivado. Uma moça ansiosa andava pela casa, uma chuva forte começa a cair,
os convidados estavam chegando de repente um grande bolo com as alianças caem, que
acidente!
Mas ainda recupera a terça parte do tabuleiro. A festa aconteceu, foi bonita, harmoniosa,
alegre. Essa moça que agora noiva e carregava uma aliança, um compromisso, mas não deixou
o seu sonho de entrar para um colégio, ser professora e sua preferência era alfabetizar. Os céus
a ouviu pois numa manhã chega em sua casa o diretor Joaquim Carlos e a coordenadora amada
tia Moreira. Justo do colégio onde formou. Sonho concretizando. Um convite aceito, agora ela
fazia parte daquele corpo docente da tão sonhada escola. Em setembro de 1984 começa então
contar os dias e anos que viriam e com certeza ali ficaria até Deus permitir. O mundo lhe abriu
as portas. Seus primeiros aluninhos, ah, aqueles rostinhos inocentes, como esquecê-los. Amei,
amei, amei muito aqueles anjinhos, muitos momentos de prazer e alegria. “Eu os recordo com
saudades.”
Lembro de colegas que jamais serão esquecidos. Tia Eloisa, Maria Luiza, Elizabeth
Neves, Selma Cintra, Sandra, Sônia, Zaira, nossa diretora de turno Cleuza Itacaramby, entre
outra, foram colegas para todos os momentos. Mas a vida continuava, chega o mês de dezembro
de 1984, era aproximado o casamento, 22 daquele mês, como diziam os antigos cheiros de
flores de laranjeira por todo lado.
De repente em um carro branco! Que vestido lindo! Todo branco com pedras que
brilhavam a luz do luar. O salão estava lotado. Os convidados ansiosos e curiosos para ver a
formosura daquela que de branco ao lado do pai vinha chegando. Ao olhar entre a multidão lá
estava ele, aquele que seria seu esposo. Como toda noiva ela também pensava “faremos uma
união para sempre, para sempre seremos felizes.”
Os anos iam e o brilho dos olhares estavam sendo apagados, em lugar de amor e
cordialidade se fazia presente a solidão e a falta de companheirismo.
Mas Deus, o onipotente, brinda aquele casal com um filho, seu primeiro filho, “assim
como Deus ouviu Moisés, abriu lhe a Penha e dela brotaram águas, que correram pelos lugares
secos, como um rio.” Sl 105/41
Deus ouviu a oração daquele jovem casal. Veio como melhor presente. Um filho lindo,
perfeito, muito amado. Mas não sabiam que aquela alegria fosse durar tão pouco. Antes de
completar três aninhos se vai para a eternidade deixando muito vazio, muita tristeza. O pior dos
medos tornou-se realidade no Crepúsculo da tarde, na solidão das horas vazias, dizia em seu
coração: “para que viver? Se o sentido da vida já não faz mais sentido.”
Sem dizer uma palavra pois a tristeza era demais. Queria que Deus apagasse aquele dia
em que ela nasceu. Queria que fosse riscada do calendário de Deus o dia em que nasceu.
Não queria mais ver a luz do dia. (pls Jó)
Se sentia cansada e acreditava que o descanso eterno seria alívio ao seu corpo e a sua
alma ferida. Pois a sua paz estava destruída.
Os amigos a consolavam, como sussurro chegavam aos ouvidos.
Diziam “alguém íntegro não se perde na batalha.”
“Não desista da vida alguém inspira em você.”
“Não somos melhores que Jesus, ele sofreu e morreu no madeiro a dura morte de Cruz.”
Maria ainda tinha uma fé viva no seu Criador e sabia que bastava um sopro de Deus e
tudo seria transformado. Correu e atirou em seus braços pois sabia que não tem limites os
milagres do Senhor.
Deus salva os oprimidos. Ele a fez ver luz nos caminhos, flores por onde passava. Com
certeza a fé dentro do coração a levantaria e sairia daquela tão grande aflição.
Deus fere, mas também cura as feridas. Assim como Jó perdeu seus filhos e o poderoso
deu outros, esse mesmo poder recairia sobre ela.
Tinha pressa e torcia para que seus sonhos também fossem os sonhos de Deus.
A dor da saudade do seu pequeno Leozinho invade a alma, comida já não passava em
sua garganta.
Seis anos se passaram, aquela ferida já não estava tão aberta, a dor já se aquietara um
pouco.
Era hora de mudar da cidade onde vivia, São Luís de Montes Belos, olhando para trás
ia deixando o seu filho querido repousando debaixo de uma terra fria, seus amigos, seus
aluninhos da escola, Shekina e sua doce e inesquecível Sandrinha.
Colocou em uma mala invisível todas as recordações e guardando lá no fundo do
subconsciente.
Partiu rumo a Goiânia.
“Vende-se” (Marina Colasanti).
(Poema que me recordo cada lugar que morei).
Há sempre alguém deixando a casa em que viveu e buscando novo pouso. A construção
do ninho humano é complicada, não bastam quartos. E com a casa que se deixa vai o tempo
vivido entre aquelas paredes, os sons que na nova morada serão outros, aquela fresta de luz,
aquela janela e o que através dela se via.
Levam-se os pertences, mas a casa que foi pertence maior fica(…)
Penso nisso toda vez que vejo um cartaz de “Vende-se” preso em uma janela ou porta.
Não sem emoção.
E agora, com tantas casas a venda devido ao mau momento, então poucos compradores
minha empatia está sendo convocada com frequência.
Olho os vidros sujos e penso que antes havia um cotidiano que justificava a janela(…)
Numa casa abandonada o teto é o primeiro a se desfazer. A ventania leva uma ou outra
telha, a chuva abre caminho, os cupins se servem das vigas e sem ninguém que o cuide o telhado
se apronta para desabar(…)
Tive tantas casas que nem paro para contar.
Não esqueci nenhuma. Às vezes, quando o sono demora a chegar, percorro os aposentos
de uma ou outra, ouço o ranger de um piso de tábuas, um certo tilintar, o cheiro tão familiar que
me esperava. Como um braço ao abrir da porta, a luz que ao entardecer vinha da praça(…)
Todas em algum momento, tive que deixar. Em algumas era criança sem direito a voto,
tendo que acompanhar a decisão dos adultos. Em outras adolescente ainda, não traçava meus
próprios planos. Depois jovem, estava voltada para o futuro, para o próximo capítulo, para a
próxima casa. Não sofri, mas não abri mão de nenhuma delas. Estão todas escritas debaixo da
pele, tatuagens que ninguém vê, só eu, espaços biográficos que conservo nos olhos, e a qualquer
momento revejo.
Capítulo III
Estava na capital, vida nova, emprego novo, amigos diferentes. Viver e sonhar era o que
ela queria. Ali seria feliz. Certo dia dentro de um templo ouviu o que tanto almejava: “Salve
agraciada do Senhor seu desejo é um filho? O senhor concederá o desejo do seu coração” assim
dizia o pregador Zico Braga.
Ufa, estava grávida, gerava dentro do útero aquele serzinho e já era alegria da casa.
Gravidez difícil, porém, muito esperada e aguardada.
Louvai ao Senhor pelos seus atos poderosos: Louvai-o conforme a excelência da sua
grandeza. Slm 150/02
Aos oitavos mês de gravidez deixa a capital rumo a sua cidade natal onde daria a luz a
um menino. Nasce robusto, choro forte, menino valente. Crescia em estatura e inteligência.
Bom filho, bom homem. Mas não ficaria só neste. Era Promessa de um nome escolhido pela
avó paterna Laura.
Então chega a tão sonhada dona do nome Daniella, lindinha, meiga, muito calma,
completava então a alegria que faltava no lar.
A caçulinha muito apegada ao pai. Eram os netos amados e admirados pelos avós.
Agora Maria estava pronta para continuar os estudos.
Aos 40 anos inicia-se letras e inglês em uma Faculdade Estadual. Sua mãe, porto seguro
lhe apoiava em tudo.
Mas de repente em seu interior foi novamente amargurada. Mãe doente de câncer,
doença terrível que consome aos poucos o ser humano. Uma batalha pela vida era travada todos
os dias.
Até que a vi se entregar aos desígnios de Deus.
Que lhe amparou a alma cessando as dores, gemidos e sofrimentos. Um imenso buraco
no peito foi deixado, nada preenchia aquele vazio. Vazio imenso como escuridão da noite.
Conversava com o infinito, com o vento, tudo era silêncio. Tudo nada lhe respondia.
Ela sobrevivia com os pedaços que ficaram do seu coração.
Pois o mesmo foi partido pela dor. Perde sua mãe querida, sua protetora, seu porto
seguro. E agora? Como seria a vida sem seus conselhos, sem a luz do seu olhar… Como
continuar seus estudos? Como ficaria os filhinhos que agora netos sem a vozinha amada. Um
turbilhão de coisas me passava pela cabeça.
Como seria na noite de formatura quando olhasse para os bancos onde se sentavam os
pais dos formandos e não te visse entre eles?
Era difícil pensar nisso. Mas firmou-se numa frase um dia dita por sua heroína: “filha
você vai vencer!”
E venci, suas palavras foram ouvidas no céu.
Conseguiu. O pódio lhe esperava.
Deus lhe deu novos rumos, vitórias…
Capítulo IV
Dois anos depois, onde se via fora de um deserto árido e seco pela saudade da mãezinha.
De repente não mais que de repente lhe pega de surpresa a doença de seu pai. Ao ver
aquele bravo em uma cama de hospital, se rende pela dor e insegurança pois tudo já tinha sido
feito.
Seria hora do adeus.
Doença na carne e na alma pois nem o tempo superou a falta de sua amada que por
muitos anos compartilharam o seu amor. Estava frágil, debilitado, sofrido entrega-se e não
resiste, a morte venceu aquele bravo lutador, batalhador, leva-se um pai com uma linda história
de vida de luta e honestidade. Tomba sobre a terra um soldado valente, bravo guerreiro.
Novamente não existia nada além da angústia. Todas as luzes pareciam obscuras.
“A memória do justo é abençoada, mas o nome dos ímpios, apodrecerá.” prov. 10/6
Maria sempre recordava com saudades da última visita do seu herói. Lá no portão bem
de tardezinha, aquele homem branco de olhos amendoados, porém cabisbaixo semblante triste,
dizendo: ” Filha, vim aqui para te ver e dizer-lhe, nunca afaste do Senhor, tenha ele como seu
alto refúgio, seu forte ajudador.
Todos podem te abandonar, mas Deus jamais. Ele permanece fiel”
“Palavras ditas e escritas em linhas transparentes do meu coração.” Contei com as forças
do eterno sobreviver.
Alguns anos depois agora os filhos cresceram, rapazinho e mocinha. Seguimos nos
estudos, trabalhos, uma rotina tranquila, alguns contratempos, porém o sol sempre raiava com
mais força.
Já estava mais forte para lidar com umas surpresas apresentadas.
O tempo nunca lhe poupou a carne e nem as angústias abandonou a alma.
Sentia o chão fora dos pés, via sonhos desfeitos e jogados ao léu. Agora “era ele”…
Partia para sempre de sua vida, seus braços e aconchegos de esposa, não lhe era suficiente para
prosseguir o mesmo caminho. Havia anos construídos e agora ia se desfazer com o tempo.
Ficaria uma busca, um por quê?
Uma cicatriz, uma ferida exposta. Uma história sem final… (Refrão de música)
“Esta é a última vez que lhe vejo, só vim dizer adeus e partir. Não vou nem sequer pedir
um beijo, seria inútil pedir.
Sei que em seu coração tem outra, não existe mais lugar para mim…”
E assim te vi sumir, lá na curva da estrada. Era demasiado, grande os dias, as horas
pareciam que não passavam. Precisava de mudança de lugar, de vida, apagar aquele passado
sombrio.
Numa tarde olhando o pôr do sol, onde sumia os últimos raios por entre as nuvens.
Contemplava a formosura de dois seres lindos, perfeitos, criação Divina, li dentro
daqueles olhos me pedindo “reaja mãe, precisamos de ti.” Diante deles minha continuação de
vida, minha herança na terra. Teve forças para continuar vivendo. Encantada com os progressos
dos filhos, iam bem na escola, nos trabalhos, no dia a dia. Mãe orgulhosa feliz. Num piscar de
olhos minha pequena já estava de namoradinho, isso lhe deixava apreensiva, pois a queria
sempre por perto, no seu colo, no seu teto. E sabia que isso logo acabaria. Seria casamento?
Será que a pequena estava pronta? Casamento marcado, logo construiria sua nova família. Meu
Deus, sairia de casa da presença cuidadosa do seu olhar, “seja feliz minha menina.”
É tudo que uma mãe quer para os filhos.
A casa ficou apenas duas pessoas, uma mulher inquieta anda pela casa, chama por você
filha, mas me lembrava que você tinha ido, ficou uma lacuna, ficou quarta cor de rosa, e agora
era ocupado por seu maninho, agora lençóis azuis. Nas noites seguintes sempre saiam para
jantar ou apenas um lanche. O cansaço pelo dia de trabalho e a necessidade de descansar seus
corpos. Eram pouco tempo fora de casa. Seu lar era onde se resumia suas atividades a um belo
sossego. Maria fazia tudo, talvez até o impossível para agradar os filhos pois sentia que suas
forças teriam que ser dobradas, sua dedicação teria que valer por dois. As vezes até tentava
adivinhar o desejo dos filhos, pois os mesmos já não contavam com a presença dos pais debaixo
do mesmo teto. Havia ficado uma lacuna “divórcio e separação já fazia parte do novo
vocabulário. “Era difícil substituir com sorrisos onde haviam marcas de desilusão.
Mas o tempo não para. Não para e como consertar o que se fez em pedaços.
Capítulo V
Uma viagem com seu filho, essa marcaria vidas, laços de amor aos corações de dois
jovens apaixonados. Meu Deus ele também vai casar? Uma pergunta que repetia em sua mente.
Como o som de apenas uma tecla do piano repetidamente aos ouvidos. Ela receava por um
futuro que parecia tão próximo, e realmente foi rápido, encontros, viagens. Os telefonemas
madrugada a fora.
Enfim o grande dia para eles. Como chega o sol todas as manhãs acontecimentos
também eram fatos. Uma jovem bela chega em nossa família, meiga, conquistando o seu
espaço. Passávamos horas conversando, histórias uma atrás da outra iam sendo contadas. Lá
naquele clube bem bonito cheio de flores de longe se ouvia o som de músicas orquestradas.
Muitos amigos vieram prestigiar aquele momento.
De repente música de entrada.
Maria estava trêmula, seus lábios sorriam para não chorar. Uma força grande,
certamente os céus o viu e a ajudou.
Deixou seu filho lá no altar. Onde dali em diante suas vidas mudariam, cada um tomaria
seu caminho.
Pelos caminhos de volta agora sozinha.
A casa que era pequena ficou grande demais. Coisas que nunca aprendemos a dividir,
amor de filho. Mas precisava preencher um vazio.
Agora Deus e eu, ele era e é meu amigo, meu companheiro, meu esposo, meu escudo,
meu refúgio, meu protetor. Tenho por ele eterna gratidão e devoção ao meu Deus onipotente,
onisciente e onipresente, não estava sozinha!
Minhas madrugadas eram deixadas aquele momento especial que sempre de joelhos
falei com Ele.
Final de semana! Que alegria, ela se levantava bem cedo pois um almoço seria
preparado, não era um almoço comum, e sim nos pratos teriam os sabores e alimentos que
agradavam os paladares dos seus pimpolhos.
Como era bom ouvir os vossos lábios.
“Faz aquele macarrão com bacon mãe”, “mãe faz aquele peixe com creme de leite”. E
assim ia para mesa, era só alegria, barulho de pratos, vozes, garfos e talheres, até música era
permitido. Era assim quando eles estavam ali. Tudo continua, vidas, alegrias, notícias, um
telefonema, surpresa!!
Alguém vai nascer, correria e alegria chegam mudando nossas vidas!
Um principezinho chamado Gabriel.
A vovó Maria muito emocionada olha pela primeira vez aquele rostinho lindo!
Menino calmo, tranquilo. Um quarto lá na casa da vovó já havia sido preparado, sonho
realizado. Lá naquele apartamento ficou marcado com muitas alegrias. E assim seguiram. Os
filhos estavam bem seguindo as trilhas, as estradas da vida. Ela tinha um pedaço do céu que era
só seu. Este era visto do seu quarto. Deitada em sua cama contemplava um céu estrelado que
fazia companhia em suas noites de insônia. Mesmo sem uma noite de sono juntava-se as mãos
em oração e agradecida saía para uma nova jornada de trabalho. Não deixava faltar em sua
geladeira os bolinhos e docinhos pois a qualquer momento poderia receber a visita do seu filho
ou da filha, quem sabe a nora, o genro e se não vinham era um pouco frustrante. Mas tinha boas
lembranças dos momentos e podia rever sempre que queria.
E com esses pensamentos bons adormecia o negro manto da noite lhes fechavam os
olhos com sonhos de um novo amanhecer.
Capítulo VI
Ufa! Um encontro, um encanto era real. Um novo amor surgia. O destino lhe trazia de
longe aquele que seria seu companheiro. O dia que lhe era proposto lhe fez forte e preparada
para construir uma nova história.
Um dia lá na estação para um ônibus, ele desce, os olhares se cruzam, algo diferente
aconteceu, houve abraços de dois seres que sabiam o que queriam e quais os passos precisavam
para trilharem na nova estrada.
Naquele exato momento se estendia em nossa frente o caminho a se seguir. “Vamos?
Agora somos dois.”
“Me dê a sua mão, caminhe comigo.” Não somos mais sozinhos. Deus, você e eu.
Deus mudou o teu caminho até juntares com o meu e guardou a tua vida separando-a
para mim.
Para onde fores irei onde tu repousares repousarei, teu Deus será o meu Deus. Teu
caminho o meu será. Rute 1:16,17
Um casamento simples, bonito, poucos convidados. Era hora de partir, ir embora 360°
trezentos e sessenta graus mudariam minha história.
Iria para longe, era os planos de Deus e não se discute ordem dos céus. Simplesmente
atende. Ia deixando para trás parte de seus sonhos, conquistas, família e seus filhos amados.
Rumo a uma cidade grande e desconhecida. Tendo Deus como seu chão, sua esperança, seu
amanhã. Viagem longa, muito calor, inquietação, e até algumas lágrimas pelos momentos de
adeus que já eram saudades. Saudades de tudo, e a maior delas eram os olhos chorosos dos
filhos ao ver sua amada mãe partir.
Chegamos já era noite em São Paulo. Terra da garoa, terra estranha, muitos prédios,
grandes mercados, muita gente, movimento de pessoas nos mercados, filas intermináveis nos
caixas. Carros de todos os modelos, marcas e cores. Me distraia com tudo. Precisava me
preparar para viver tudo aquilo como se fosse normal. No dia seguinte, fazíamos um ou outro
passeio, conhecia os grandes shoppings, ruas intermináveis, movimentadas, tirava a cara para
fora da janela para apreciar tanta beleza, cada prédio que sumia de vista em altura, apitos,
buzinas ensurdecedoras, nos trânsitos e semáforos bastava olhar para o céu, helicópteros e
grandes aeronaves cortando o infinito azul ou quase sempre cinzento.
O tempo passa depressa, a saudade bate forte, mas a alegria fala mais alto, seu filho e
nora chegaria lá na estação Barra Funda, choro, risos, ali estava minha benção prometida. Que
legal! Passeios, cultos, praia, lugar lindo, água salgada, agradável lugar escrito em páginas da
memória. Despedida. Tudo volta como antes. Dedicava cada vez mais em seus trabalhos
artesanais para não deixar o ósseo invadir lhe a alma.
Um som de órgão preenche seu ser, seus dedos percorrem pelas telas onde saía louvores
ao Criador. Um ano depois outra visita, agora era sua filha, genro e netinho. Entusiasmada ela
e seu companheiro seguem para Campinas, aeroporto Viracopos, em uma grande aeronave
chegariam. Aquela que é sangue do seu sangue, carne de sua carne, que felicidade!
De repente lá vem ela, toda linda, sorridente, mulher exuberante, cabelos longos e
negros sobre os ombros, uma face angelical, simplesmente bela, a mais bela. O netinho estava
um pouco febril, mas tínhamos certeza que tudo ficaria bem, como ficou. Fizemos passeios
diversos: shopping, lojas e praia. Que lugar lindo! Praia Grande em São Vicente. Divertiram,
alegraram, brincaram e assim se foram os dias que juntos passaram, foram inexplicáveis.
Capítulo VII
Um tempo depois recebe uma notícia que abalaria sua vida e mudaria sua rotina, sua
sogra doente chegaria em busca de medicina. Doença cruel que a consumia. Tudo foi feito,
porém sem a resposta desejada. Pois foi encaminhada para Barretos, Hospital do amor onde a
cuidaria de um câncer no intestino. Por lá ficamos por 6 meses consecutivos. Longos dias e
noites compridas. Gemidos, choro e tristeza ali era comum. Todo dia podia se ver alguém sendo
levado por macas pois a morte havia vencido. Era um temor muito grande e sabíamos que cada
amanhecer era motivo de dar glórias e agradecer pela vida. Chega a hora de ir embora, deixamos
para trás amigos, enfermeiras, médicos, nos coloridos de Barretos deixávamos nossas incertezas
e levávamos a esperança de vencer. Uns seguem para Barra Mansa, Rio, nós fomos para São
Paulo para nossa rotina. Tudo recomeçaria com fé e com a certeza que Deus não falharia. Todas
as vezes que a saudade bate forte no peito, juntava-se com a família no Estado de Goiás.
Cantai ao Senhor um Cântico novo porque ele fez maravilhas, a sua destra e o seu braço
Santo lhe alcançaram a vitória. Sl 98-1
E veio entre nós a Emanuele Vitória. Linda, uma estrelinha e cada dia nos surpreendem
com o jeito de ser menina forte, robusta, que se aninha calmamente nos braços da mãe buscando
seu favorito alimento. E assim a família vai crescendo, éramos 3 e agora em tão pouco tempo
já somos 8 pessoas. Só gratidão ao pai. Tudo estava bem, família unida. Mas uma terrível
pandemia agora começa assolar a terra, fevereiro de 2020. O mundo está em pânico, o povo
não se fala mais em outra coisa. O tal vírus da morte, um bichinho invisível que entra em todos
os lugares, sem distinção de raça, cor e idade, ele entra nos grandes prédios, palacetes,
apartamentos luxuosos, casebres, escolas, fábricas, debaixo da ponte e até nos moradores de
rua. Nada e nem ninguém escapa desse vírus chamado covid-19. O povo confinado em suas
casas, agora a ordem. Só podem sair de máscara, as ruas vazias, fábricas e lojas fechadas, o
desemprego toma conta dos seres. Já não se conhecem, pois, a máscara cobre parte do rosto.
Sorriso já não lembramos mais. precisávamos refugiar, buscar um lugar mais calmo.
Capítulo VIII
Deixamos São Paulo.
Uma cidadezinha no sul de Minas, Santa Rita de Jacutinga onde tem uma população de
pouco mais de 4 mil habitantes. Seria nossa nova morada. Lugar calmo, tranquilo. Um ano
depois a pandemia continua. Muitos amigos, conhecidos, irmãos de fé foram vencidos pelo
vírus da morte, mas agradecida por mais um aniversário chegando. Que linda festa, homenagem
singela dos filhos, genro, nora, netos. 58 anos, um incrível texto resume esses anos. Quantos
anos tenho?
Tenho a idade em que são vistas com calma, mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a acariciar com os dedos e a ilusão se
convertem em esperança. Tenho os anos em que o amor, as vezes, é uma ressaca de paz, como
o entardecer em uma praia.
Quantos anos tenho?
Não preciso de um número para marcar os meus anseios alcançados, as lágrimas que
derramei pelo caminho ao ver minhas ilusões despedaçadas, vale muito mais que isso, o que
importa é a idade que sinto.
Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pela trilha, pois levo comigo a experiência adquirida e a força
dos meus anseios.
Quantos anos tenho?
Isso a quem importa?
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e o que sinto.
José Saramago
Maria, uma mulher realizada venceu seus maiores medos, conseguiu quase todos os
desejos e ideais.
Se o tempo lhe desce a chance de voltar lá nos primeiros degraus da escada, acredita-se
que faria tudo de novo, talvez com algumas mudanças de projetos. Valeu a pena tudo que passei,
serviu-me de lição, não tive tudo que sonhei, mas tenho certeza que muitos dariam tudo pela
vida que tenho. Jamais serei prisioneira do passado, foi apenas uma lição, não uma sentença.
É preciso permitir que as coisas lindas aconteçam, porque felicidade bate na porta, mas
não gira a maçaneta. Quem decide se quer que ela entre ou não, é você.
As pessoas que convivi e convivo não são as mais bonitas, as mais ricas ou as mais
populares. São as que encantam minha vida com simplicidade, doçura e carinho. Pessoas
especiais.


Capítulo IX
Pela mesma vidraça contemplasse um lindo dia, os pássaros novamente cantando e
saudando o amanhecer.
Com os olhos fitados em um claro céu, em uma silenciosa súplica pede ao Criador que
seus sonhos seja o sonho de Deus.
De um dia a sua terra natal voltar. Léguas de distância a separa de sua família. Jamais
saberemos o que os dias nos reservam, mas devemos encarar o amanhã com esperança.
Em qualquer circunstância pensar em Deus.
Mesmo que haja caído no mais profundo abismo, crer no bem e esperar por Deus, porque
Deus te levantará.
E com uma canção de agradecimento meus dedos de dilatação nas teclas de um órgão


musical, um hino ao Senhor.
O Senhor tu me conheces,
Tu conheces meu viver.
E também meu pensamento não te posso esconder.
Onde quer que eu esteja,
teu espírito está.
Tua mão em toda parte,
sempre me abraçará.
Com meus olhos não te vejo,
mas eu sinto teu amor,
tu me cercas de continuo
O eterno Criador.
Nem as trevas me ocultam,
dos sublimes olhos teus,
pois a noite é como um dia para ti, ó Grande Deus.
Purifica o meu caminho,
pelo teu poder Senhor.
Eu desejo ser sincero,
e andar em teu temor.
Onde quer que eu esteja,
teu espírito está o Senhor.
Tu me conheces,
Deus além de ti não há.
(Hino CCB)
Sentada em uma cadeira onde passa todas as tardes em um prédio, na sacada do quarto
andar, deslumbrando com as belezas dos montes que cerca a cidade, quase engasgada pergunta:
Quem é esta Maria da história que escrevi?
“Esta Maria sou eu.”